E AQUI FICAM NOSSAS PALAVRAS LAVADAS, PARA QUE SE SEQUEM DE NOSSOS SENTIMENTOS.

sábado, 18 de agosto de 2007



Eu te odeio.
Eu ainda te odiar significa que nem por um dia eu deixei de pensar. Que o mais intenso dos meus sentimentos foi voltado a isso.
Eu te odiei do momento em que sumistes daqui, até a hora em que voltasses a me procurar.
E eu te odiei por me fazer sentir tanta a tua ausência.
Eu odeio o modo irritante de como tiras o meu sono. O modo como me traz instabilidade em dias de calmaria.
E eu odeio te perdoar. Odiei não conseguir rasgar tuas fotos, apagar os teus recados e me desfazer dos teus presentes.
Odeio ainda sentir o gosto amargo do teu descaso. Lembrar-me de você em toda lua cheia.
Odiei ainda mais precisar encarar a vida sem ti, dar passos cegos e até procurar outros caras.
Odeio ficar comparando pessoas a você e saber mesmo assim que ninguém fará comigo o que tu ainda fazes.
Odeio ver o relógio parado no tempo em que você se foi. Ter provas reais de que o destino vive a brincar conosco. Ainda te odeio tanto.
Eu odeio confundir o teu andar pelas ruas, buscar olhares perdidos e nao ouvir o teu pulsar.
Odeio a nossa musica no radio e lembrar-te a cada 26 dias.
E te odeio porque sei que não percebes que te odiar é o mais visível traço de que ainda te tenho em mim. De forma íntima e inabalável.
Eu te odeio por nunca ter conseguido afogar-te nas minhas memórias feitas minuciosamente pelos teus toques e trejeitos.
Odeio o fato de só tu não entenderes.
Odeio te conhecer tão bem e saber que pra ti as coisas não são assim.
Eu te odeio, por levar um segundo para entrar e uma eternidade para sair da minha vida.
Eu odeio que seja você o dono da aquarela. O jeito que me envolves.
Eu odeio te ver como solução.
Odeio o atraso que me causas e a rapidez com que me esqueces.
Eu odeio ter tanta certeza de que ainda te amo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Cartinhas


Revirando recortes e adesivos velhos dentro de minhas caixas de recordações, reencontrei uma cartinha que recebi quando estava na 3ª série do primário. É impressionante como o vulgo Amor torna-se algo curioso e, ao mesmo tempo, inocente aos olhos de uma criança.

Voltando a minha cartinha, lembro-me de que dentro do seu envelope veio uma lapiseira, um papel com alguns dizeres sobre fatos da época (essa crônica não achei, uma pena) e um marca-páginas com uma mensagem. No final do texto, vem escrito meu nome e do garotinho da 4ª série que escreveu para mim. Como foi bom ser criança!

"Se algum dia ficar curiosa pra conhecer alguém, não espere que o destino o traga para perto de você, vá ao encontro desse alguém e lhe diga: eu fiz o destino trazer você a mim."

Obrigada pela cartinha, Gutierre. :)

domingo, 5 de agosto de 2007

Vivendo na gaiola deles


Tudo começa com paranóia. Não a paranóia de sempre, aquela desconfiança e suspeita exageradas, sem respostas. Falo de algo próximo de uma paranóia discreta, difícil de ser reconhecida, ainda mais tratando-se de algo silencioso na rotina.


Silencioso porque não é todo dia que alguém externa essa sensação. É mais um sentimento daqueles que os olhos capturam daquilo que vêem e guardam-no imediatamente no inconsciente, sendo reconhecido outra hora na leitura ou vivência de algo parecido.


Não faltando uma pitada de cultura inútil, nas temporadas de reality shows, os programas de celebridades besteirol questionam o incômodo de viver diante de câmeras. O que muitos esquecem é que essas lentes são apenas artificiais, e que há piores lentes monitorando-nos diaramente.


Este insight incoerente surgiu debaixo de uma ponte quando eu parara num sinal. Comecei a observar as pessoas transitando e reparar coisas como modo de andar, destino, roupas, gestos etc. Alguém distante e oculto pode acompanhar os passos de outrem sem que este o perceba. Detalhe: o anonimato pode ser mantido por uma vida inteira!


Já parou para pensar que alguém pode estar observando você há dias, meses, anos..?


Vivemos numa grande superposição de gaiolas em que todos percebem todos, ninguém percebe ninguém, e a vida continua. A menina da tiara rosa pulando no banco do circular amarelo. Os dois amigos que conversam gesticulando e com passos trocados. A mulher que trata mal os funcionários do Habib's. O segurança do estacionamento que não vê a hora de encerrar o serviço. O vestibulando que não consegue resolver uma questão e come duas barras de chocolates. Um admirador secreto que me mandou uma rosa na Creperia. Os sorrisos de crianças brincando no parque. A felicidade da noiva ao jogar o buquê. O olhar decepcionado do pai que acaba de descobrir a mentira do filho..


Vivemos nas gaiolas deles, e eles nas nossas.